Mais um Congresso da FPC (continuação)

 Continuação: mais um Congresso da FPC 

 
Autoria de Inácio Oliveira
 
Referi no passado que iria focar o desleixo, a incompetência, o abuso de poder, a arrogância, a falta de respeito pelo próximo, a manipulação de calendários com repercussões nos resultados, o desperdício de dinheiro que não lhes pertence em equipamentos e construções não usadas e indevidamente rentabilizadas, a farsa, a vergonha e mentira que certas pessoas fizeram da nossa columbófilia. Não será um destes o motivo principal das desistências e falta de adesão ao nosso desporto?
 
É sabido que uma parte das desistências está relacionada com a situação económica que o país atravessa. Sempre que se aborda o tema o nosso dirigismo atira com as culpas para cima dos comerciantes do ramo, alegando elevado preço das rações, suplementos, pombos, etc. È verdade que temos a nossa quota-parte de culpa, mas eu provo que os principais, se não os únicos responsáveis, são os nossos dirigentes, alguns dos quais vendem a “alma” em troca de um saco de ração, um frasco de vitamina um desconto aqui e ali.  
 
Abuso de poder, desleixo ou incompetência: aquele a quem são dados poderes para gerir fundos ou verbas confiadas por terceiros e os utiliza indevidamente ou para proveito próprio pode ser considerado como um abuso de confiança ou do poder que lhe foi atribuído.
 
A associação Columbófila do Distrito de Aveiro é uma Instituição de Utilidade Pública que tem obrigatoriamente de ser gerida dentro de normas que se enquadram nas leis em vigor. Mas não o é.
 
Sede social com custos superiores a dois milhões de euros: nunca no passado nos foi apresentado um relatório de contas devidamente auditado, que deveria ser enviado anualmente a todas as colectividades. Assim como nada foi apresentado, vou utilizar números baseados em estimativas passíveis de uma margem de erro na ordem dos 10%. Este edifício é composto por escritórios com aquecimento, ar condicionado e mobiliário de primeira com todo o conforto (aqui nada a apontar) para quem aí trabalha com uma área de aproximadamente 220 m2 onde estão incluídos salas de reunião e gabinetes de direcção.
 
Aqui trabalham três funcionários/as a tempo inteiro, esporadicamente são agendadas reuniões de direcção, que normalmente são semanais no período da campanha desportiva, de Fevereiro a Junho, passando a reuniões mensais durante o resto do ano.
 
Temos um chamado salão nobre com uma área de aproximadamente 700 m2 que nunca vi ser ocupado, consta que foi utilizado seis vezes nos últimos dez anos.
 
Temos garagens com uma área coberta de aproximadamente 1200 m2 onde podem estar estacionadas as oito viaturas de transporte, que são também propriedade de todos nós. Contudo, durante a campanha desportiva e mesmo na época de defeso a frota ou parte desta está ao ar livre de dia e de noite.
 
Todo este aparato luxuoso desnecessário, ou no mínimo mal utilizado e não rentabilizado, que foi construído com o nosso (columbófilos) dinheiro e com subsídios provenientes dos impostos pagos por todos os contribuintes deste país, graças a certos dossiers fundamentados com inverdades colocados em frente do nariz de políticos ingénuos que infelizmente governam o nosso país.
Pergunto: que condições e espaço tem a Vila de S. Roque no posto médico que atende centenas de doentes diariamente? Entre outros talvez o Sr Presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis nos possa elucidar sobre esta matéria.
 
Escritórios com uma área de 150 m2, um terreno com 1500 m2 para estacionamento das galeras, e garagens com 200 m2 de área coberta para os tractores e cestos de transporte seriam mais que suficientes.
 
Quantos não estariam entre nós, refiro – me aos colegas que abandonaram o desporto, se tivéssemos optado por investimentos ajustados às nossas reais necessidades? Certamente que os custos relacionados com a manutenção e conservação deste monstro seriam muito inferiores e todos pagaríamos menos.
 
Pergunto ainda: qual o motivo de não se rentabilizar o espaço morto aí existente, como por exemplo, abrir um local de convívio funcionando diariamente, uma espécie de bar ou café onde os columbófilos e não só pudessem conviver e confraternizar entre si e com quem os dirige, facilitando assim o dialogo e a troca de impressões que só ajudaria a melhorar o dirigismo, promovendo a amizade e a união para não falarmos da rentabilidade financeira agora mais do que nunca indispensável para a nossa sobrevivência.
 
Quantos não estriam ainda entre nós se tivesse – mos pensado também neste pormenor?
 
Todo este aparato com o triste resultado de 50% de abandono dos associados nos últimos seis anos. Dois mil foram – se embora. Quantos restam?  
 
Frota de transporte e equipamento relacionado: temos oito galeras ou carroçarias e oito tractores, avaliados em mais de um milhão de euros, praticamente todos com capacidade para transportar cargas de 30 a 40 toneladas que são utilizados entre 12 e 20 dias por ano, um dia por semana durante 6 meses.
Qual a empresa de transporte no mundo que consegue sobreviver com uma aberração desta natureza? Se isto não é abuso de poder, será no mínimo gestão negligente.
Qualquer um dos Srs. dirigentes tem ao alcance uma máquina de calcular. Um cesto de transporte pesa 15 quilos, cada galera carrega no máximo 280 cestos o que perfaz 4.200 quilos.
 
Cada galera transporta no máximo 10.000 pombos, cada Pombo pesa em média 500 gramas o que perfaz 5.000 quilos.
 
A carga total nunca será superior a 10 toneladas. Qual o motivo para se adquirirem estes monstros? Não bastaria um tractor de 12 a 15 toneladas? E o custo dos combustíveis necessários para arrastar esses bichos?
 
Galeras com três rodados, significa 12 pneus a romper constantemente mais 6 do tractor são dezoito por viatura, vezes oito veículos são 144 pneus na estrada.
Podíamos ter recorrido a galeras com dois rodados com pneus de menor diâmetro, o que facilitaria o carregamento dos cestos, o bem-estar dos pombos, e os custos seriam reduzidos para metade.
 
Pergunto: quantos colegas nossos não estariam entre nós se estas poupanças tivessem sido efectuadas e passadas ao utilizador?
 
Já agora qual é a empresa que fornece os pneus, combustível, óleos, cestos, grades plásticas para os mesmos e outros consumíveis? Em nome da transparência seria bom que essa informação fosse divulgada, assim como quem é, e quanto é pago ao contabilista (não me refiro a quem assina as contas) da ACDA?
 
Calendários desportivos: em todo o mundo onde se pratica a columbofilia os locais de solta mantêm – se inalterados durante décadas, com repetições que podem ir ate às cinco ou seis soltas no mesmo local.
 
Na minha Associação as soltas são programadas de acordo com os interesses de alguns dos senhores dirigentes. Um ano lucras tu outro ganho eu. Aposto que no próximo ano voltamos a ter soltas de Vila Real de Santo Antonio, apesar de isso significar que a distancia terrestre a percorrer será de mais 180 quilómetros que por exemplo de Portimão. No entanto as coordenadas são quase as mesmas.
 
Temos uma auto-estrada que atravessa o país de Viana do Castelo ao Algarve. As soltas deveriam ser efectuadas sempre o mais próximo possível das saídas dessas auto – estradas.
Seria melhor para os pombos, menos horas de viagem e evitava – se as estradas do interior onde os pisos ainda deixam muito a desejar, e causam problemas aos pombos. Os senhores motoristas teriam a vida mais facilitada e cobrariam menos, o desgaste dos transportes seria menor, o consumo de combustível seria menor, os amadores poderiam encestar pombos mais tarde e acima de tudo cultivavam – se pombos especialistas em certas distancias.
 
Prefere – se confundir e baralhar os atletas que não rendem o que poderiam render, gastam – se dezenas de milhares de euros só para satisfazer os caprichos de uma minoria que nos dirige.
 
Soltas em Évora, e vizinhanças porquê? Temos Alcácer do Sal, Grândola etc., com as mesmas coordenadas, mas mais próximas da saída da auto-estrada, mas prefere-se fazer mais 80 quilómetros para o interior e soltar em Alcáçovas, etc.
 
80 Quilómetros desde a Marateca mais 80 de regresso significam 160 quilómetros a multiplicar por 8 veículos perfaz 1.280 quilómetros desnecessários por cada solta que aí efectuamos. A isto temos de adicionar 3 horas de trabalho pagas a 16 funcionários, totalizando mais 48 horas de trabalho pagas.
 
Soltas em Beja e arredores: á saída da A2 com destino a Beja, a coordenada é de 391 quilómetros, mas preferem andar 80 quilómetros para leste e efectuar a solta em Beja onde a coordenada é de 380 quilómetros aproximadamente. Resultado, 160 quilómetros vezes oito veículos soma 1.280 quilómetros de desgaste de pneus, combustível, mais 48 horas a pagar aos funcionários, pombos atormentados em estradas péssimas, etc.
 
Quantos colegas nossos não estariam entre nós se estes gastos desnecessários fossem evitados?
 
Quantas dezenas de milhares de euros custam estes caprichos anualmente? O exemplo que atrás descrevi é repetido e pode ser multiplicado no mínimo por seis. Será que não há no mínimo um pouco de senso e responsabilidade?
 
Quantidade de pombos nos pombais: com os calendários desportivos actuais, qualquer amador que tenha aspirações em ganhar (todos tem) é forçado a ter no mínimo 150 a 200 pombos voadores e entre 10 a 15 casais reprodutores. Na maior parte dos casos entre esses efectivos estão ano após ano, os chamados pombos para rodar. Isto é a farsa do século e os comerciantes esfregam as mãos, pois são esses a garantia de um consumo a duplicar e constante, mas que podia ser totalmente evitado, se quem nos dirige soubesse ou tivesse vontade de gerir imparcial e correctamente.
 
A implantação dos campeonatos de borrachos com pombos de ano acabaria com mais essa despesa. Os pombos de ano quando devidamente treinados e concursados no seu primeiro ano de vida são precisamente os mesmos pombos que agora o amador alimenta e cuida durante quase dois anos. No ano seguinte com menos de um ano de idade podem se necessário iniciar a campanha logo no primeiro concurso sem qualquer problema, em simultâneo com outros de dois ou mais anos de idade. No caso dos iniciantes, só decorrido um ano poderão ter pombos adultos, preparados para competir em todas as provas de velocidade e meio fundo. Desta forma a selecção da colónia seria realizada um ano mais cedo, evitando-se o descalabro actual onde 99% dos amadores são forçados a custear gastos totalmente desnecessários com 70 ou 80 pombos durante dois anos, para depois descobrir que apenas uma dúzia destes tem qualidade e lugar no pombal. Os outros vão para Espanha onde a maioria acaba por ficar ou então quando e se regressar de Barcelona, Lérida, etc., fica sem pescoço ou vai parar a casa do principiante.  
 
Quantos colegas nossos não estariam entre nós se estes gastos desnecessários fossem eliminados?
 
Não serão os senhores dirigentes que estão a encher os bolsos dos comerciantes e a causar a ruína de quem já pouco ou nada tem?
 
Campeonatos gerais: são a vergonha e a principal causa de nos considerarem em todo o mundo como praticantes de uma columbofilia sem valor, vergonhosa e sem qualquer verdade desportiva, que favorece apenas uma minoria privilegiada, que ganha campeonatos fantasiosos com base na mentira. Como é possível disputar um campeonato com pontuação fictícia? Como é possível num país que se diz democrata e civilizado, roubando o dinheiro e matando os pombos aos próprios colegas, só para saciar a sede de alguns vampiros que se alimentam com o sangue do próximo?
 
Aos senhores dirigentes apologistas desse campeonato faço uma pergunta. Por que não disputar o campeonato geral com pontuação baseada na verdade que é 20% do número de pombos encestados? A resposta só pode ser uma. Os bons amadores deste país não necessitam de participar em mais do que uma ou duas provas de fundo para ganhar aos ditos lordes e senhores, e isso não convém ao sistema.
 
Diminuir o número de abandonos: quando o orçamento familiar sofre alterações qualquer homem de bom senso e responsável começa por minimizar as despesas. Um columbófilo que seja também um responsável chefe de família tem que actuar e efectuar cortes nas despesas do seu passatempo.
 
Pergunto: dentro das condições actuais que alternativas ou hipóteses de redução de despesas tem este ao seu dispor? Apenas duas, ou abandona por completo e dificilmente voltará a regressar, ou então continua com os seus 150 a 200 pombos indispensáveis para competir no campeonato geral em vigor, e a família sofre as consequências.
Em 90% dos casos o abandono é a única porta de saída, e tomada esta decisão dificilmente voltará ao seio da família columbófila. É o adeus para sempre.
 
Agora vejamos outra alternativa: o campeonato geral desaparece, colocamos em prática um outro com 18 a 20 provas de velocidade e meio fundo com distancias até 500 quilómetros. Chamando-o de campeonato nacional. Ao mesmo tempo organizamos um campeonato de fundo e grande fundo com 10 a 12 provas chamando-o de campeonato internacional, a disputar em simultâneo com o primeiro, campeonato esse que teria inicio em finais de Março e acabaria em Maio antes da época crítica do calor.
 
O amador cujo orçamento familiar o obriga a cortes na despesa, que tem os tais 150 a 200 pombos no pombal já teria a opção de reduzir a despesa em 50% e certamente será esse o primeiro passo a dar, porque 50 a 60 efectivos são suficientes para disputar em igualdade o chamado campeonato nacional com qualquer tipo de oposição. Com estas condições muitos dos que abandonaram ainda estariam entre nós, as centenas de milhares de pombos que são despachados para Espanha, seriam humanamente eliminados, os participantes no campeonato internacional seriam em menor número, mas de valor superior e seriamos reconhecidos como columbófilos internacionalmente, e respeitados por aqueles que actualmente nos espreitam á espera de uma oportunidade para atacar, refiro-me às organizações defensoras dos direitos dos animais, etc.
 
Os que preferem as provas de fundo teriam um campeonato baseado na verdade onde o efectivo valor das suas colónias passaria a ser reconhecido.
 
 
Campeonatos de borrachos do ano: já falei sobre a necessidade da sua implantação e do efeito positivo que estes teriam no bolso dos columbófilos. Esses serviriam ao mesmo tempo para rentabilizar e utilizar durante mais tempo as frotas de transporte paradas.
 
O campeonato de borrachos pode ter início imediatamente após a última prova do calendário, ou no mês de Setembro depois das férias.       
 
            
Quantos colegas nossos não estariam ainda entre nós se mais esta verdade tivesse sido implantada?
 
Motivação para uma melhor qualidade de pombos: todos sabemos que sem motivação nada se consegue concretizar. No actual sistema nada existe para que se possa motivar o amador a se tornar melhor. O vira o disco e toca o mesmo faz com que estejamos todos a dormir á sombra do sobreiro. Será isso que convém a alguns membros da minha Associação, próximos da época da reforma, que pretendem apenas que se passem mais uns anitos, e depois quem cá ficar que se desenrasque.
 
Só conheço duas formas de motivar o ser humano, que são sexo e dinheiro. O primeiro já não se aplica á esmagadora maioria. A idade já o não permite, só vejo velhos. Porem o dinheiro não escolhe idades e mesmo os mancos se tornam autênticos atletas quando as notas brilham ao longe. Os campeonatos distritais no distrito de Aveiro não despertam interesse á esmagadora maioria porque nada motiva os participantes. No ano passado assisti a esta pouca vergonha. Um jovem amador conseguiu prestações extraordinárias a nível distrital nas provas de fundo. Foi convidado para estar presente na distribuição de prémios, onde lhe cobraram 25 euros pela entrada. O prémio a receber era no valor de 18 euros.
 
Se tivermos prémios monetários em disputa haverá mais empenho, os perdedores de hoje tudo farão para ganhar amanhã, haverá melhor selecção de pombos, mais trabalho e seremos reconhecidos pelos feitos alcançados. Nunca vi alguém correr atrás de um pedaço de latão. Defendo que o jogo deve ser opcional para quem quer e pode apostar. Os que não podem ou não querem, em nada serão prejudicados por aqueles que eventualmente o possam fazer.
 
Dizem-nos que não são permitidos prémios monetários, contradizendo nos regulamentos que os prémios monetários terão que ser repartidos pelos 20% dos pombos classificados. É o que temos.
 
Antes de analisar as ditas clássicas, Barcelona, etc., quero dar os parabéns aos justos vencedores que certamente não enviaram pombos que estavam destinados a morrer caso regressassem. Especialmente aos pombos constatados no dia da solta que foram apenas 10 ou 11 em todo o país, merecem ser aplaudidos, não esquecendo também os pombos do Algarve e Lisboa comprovados no dia seguinte mas que tiveram que percorrer mais umas centenas de quilómetros. O facto é que tivéssemos 10.000 euros em prémios para os cinco ou dez primeiros classificados, o número de pombos constatados no dia seria 10 ou vinte vezes superior e certamente não assistiríamos á triste situação dos resultados publicados no site da FPC com médias de pombos que só podiam ter vindo a pé. Publicações desta natureza são motivo de chacota para quem nos olha á distância.
 
A actual direcção da Associação Columbófila do Distrito de Aveiro faça o favor de mostrar um único exemplo que possa comprovar a realização de receitas através de iniciativas da vossa autoria nos últimos 10 anos.
 
Tudo que aí está foi pago com o nosso suor. É muito fácil fazer obras com o dinheiro dos outros.
 
Quantos colegas nossos não estariam entre nós se tudo isto tivesse sido revisto atempadamente.
 
O leitor tirará as suas próprias conclusões, tentei apresentar factos e não respondo á propaganda do tempo da velha senhora que está no site da minha Associação.
 
Cada distrito é uma realidade diferente, deixo para o leitor a decisão de reflectir e decidir se a triste realidade do meu distrito se aplica a outros que aparentam estar dentro do mesmo saco. 
 
Será dada continuidade oportunamente