Vamos Falar Sobre Pedigrees e ADN

               
 
 
Vamos Falar Sobre Pedigrees e ADN. 
 
O mundo columbófilo está a viver a maior crise de sempre relacionada com alegados falsos pedigrees no comércio dos pombos.
 
Nada que não se esperasse. Há aproximadamente dois anos atrás tive o cuidado de convocar todos os comerciantes do ramo em Portugal (16 no total) para uma reunião entre nós a fim de discutirmos e vir a tomar medidas sobre este assunto que já então se tinha confirmado existir provas de abusos no nosso país.
 
Era minha intenção alertar para o que hoje está a acontecer, ao mesmo tempo aconselhar a que se tomassem as medidas necessárias para que o flagelo pudesse vir a ser combatido, ou no mínimo minimizado.
 
De todos os convidados, um respondeu afirmativamente, outro respondeu a questionar a utilidade da ideia, todos os outros ficaram mudos.
 
Tudo bem, da nossa parte não podemos dar ordens nem curar possíveis enfermidades em casa alheia, mas começamos por tomar medidas no sentido de minimizar a doença na nossa casa.
 
Um pombo sem pedigree é como uma árvore sem ramos, sem folhas, é apenas um tronco sem vida perdido no meio da floresta. Um pombo com pedigree incorrecto é muito pior porque pode causar danos irreversíveis e muitos anos de trabalho perdido.
 
É o dever de todos nós comerciantes combater este flagelo.
 
Porem este processo não será assim tão fácil como possa parecer á primeira vista.
 
Há muita gente honesta por esse mundo fora a comercializar pombos, mas também há criminosos descarados, e autênticos vigaristas camuflados.
 
Tivemos o caso Van Damme, onde ninguém imaginava que o sucedido viesse a ser confirmado. O CIC foi uma, das muitas vítimas, mas não se armou como tal, e nenhum dos nossos clientes ficou lesado. A todos foi devolvido o montante pago por todos os descendentes directos e indirectos desses pombos, quantia que rondou os 25 mil euros. Quantos teriam tido a mesma forma de proceder? Não tenho a menor duvida que outros em Portugal teriam alegado ser também vitimas e os compradores teriam suportado a factura.
 
Mas, por algum motivo, mesmo reconhecendo que não somos perfeitos, longe disso, estamos cá há 25 anos, e tudo indica que continuaremos por cá. Durante o mesmo período foram centenas os “comerciantes” que vieram, desapareceram, poucos ainda andam por aí.
 
Nessa dita reunião que tentei organizar tencionava apresentar factos comprovados a 100% e ao mesmo tempo partilhar com os colegas fórmulas de combate a essa fraude para que juntos pudéssemos enfrentar melhor a tempestade que como previa está aí. 
 
No dia em que um cair, os outros serão colocados no mesmo saco, disso não tenham duvidas e tanto pagará o justo como o pecador.
 
O silêncio mata, e o facto de terem ficado calados em relação às fraudes, erros e patetices do dirigismo no passado, conduziu – nos á situação desastrosa em que nos encontramos todos hoje, embora uns melhor que os outros.
 
A verdade é que ninguém, na maior parte dos casos pode garantir que um pombo é filho deste ou daquele macho, a não ser que o casal esteja alojado em compartimentos individuais, ou no mínimo fechado sem contacto com outros pombos até que o 1º ovo seja posto.
 
Parte da informação que eu há anos atrás pretendia partilhar convosco é a seguinte:
 
Testes via ADN há muito que têm vindo a ser feitos nesta casa.
 
Os nossos pombos á excepção de + - 70 casais (os mais cotados) que estão alojados em compartimentos individuais, criam em compartimentos comuns com nove casais, com as medidas de 3 x 2 metros, com 9 ninhos, muito espaçosos, cada com 95 x 60 x 50 cm.
 
No entanto dos 18 borrachos que enviamos para certificação por ADN, dois no compartimento 7 não tinham como pai o macho que formava o casal. O mais caricato é que, nos dois casos, um borracho de cada um desses casais tinha pai diferente do irmão de ninho.
 
Resultado: prova inequívoca de que certos machos copulam com as fêmeas dos ninhos ao lado, e se isso acontecer no dia em que um dos ovos é fertilizado teremos problemas.
 
Este ano o teste foi repetido com 18 borrachos da secção 9 e mais uma vez um caso igual foi detectado.
 
Esta informação nunca devia ter sido ocultada, mas sim divulgada constantemente para que os columbófilos menos informados possam ficar esclarecidos, e em certos casos até os ajudar a compreender melhor o motivo por que no passado um ou outro dos seus campeões voadores nunca tiveram um irmão da mesma qualidade. Provavelmente o pai desse campeão será o macho do casal a reproduzir noutro casulo.
 
Os nossos colegas chineses afirmam que entro de três a quatro anos o teste por ADN será algo tão vulgar como um teste actual da gravidez. Teremos kits ao dispor de todos em qualquer farmácia que nos irão proporcionar resultados na hora.
Há que separar o crime do erro humano. É um facto que há gente a comercializar intencionalmente pombos com pedigree falso, outros devido a erros ou desleixo, mas também poderão haver por aí pombos com pai diferente daquele que o criador julga ser.
 
No que toca a nós temos vindo a tomar as medidas possíveis para minimizar esses casos começando pelas importações.
 
É sabido que não importamos quantidades, apenas pombos individuais de qualidade e sangue comprovado, o que nos possibilita a hipótese de obter amostras dos pais ou irmãos desses pombos no pombal de origem.
 
Mesmo os que temos vindo a adquirir através da empresa Pipa, a gerência está devidamente informada que nenhum pombo virá para o nosso país antes que as ditas amostras sejam recolhidas por nós ou pelo nosso agente na Bélgica e devidamente confirmadas via Teste ADN. Nas nossas instalações já constam 59 pombos devidamente certificados e outros se seguirão.
 
Tivéssemos nós esse serviço em Portugal e todos os nossos pombos estariam certificados. Porem os elevados custos do teste, aliados aos custos e inconveniências de transportar os pombos para a Bélgica e novamente para Portugal, impedem – nos de tornar esse sonho em realidade a curto prazo. Mesmo tendo em conta estes condicionantes mais 70 pombos irão ser certificados no mês de Setembro, sendo o objectivo ter todos os casais de valor confirmado certificados até 2013.
 
Até lá qualquer cliente poderá, se assim entender, obter as amostras necessárias para testar qualquer pombo que possa vir a adquirir á nossa empresa.
 
O outro lado da moeda: outro caso que também pretendia ter apresentado para discussão na dita reunião que os comerciantes portugueses optaram por não atender.
 
Não podemos esquecer que também há clientes desonestos, e eu tenho deparado com alguns, felizmente uma minoria.
Vamos assumir que alguém com segundas intenções compra um borracho no CIC mata- o e utiliza a anilha para anilhar outro. Mais tarde regressa cá e solicita amostras para efectuar o dito teste. O que é que poderá ser feito neste hipotético mas possível caso?
 
No que se refere a esta possibilidade não vou divulgar os detalhes, que poderiam ter sido partilhados com os colegas na dita reunião, mas posso garantir que já temos em prática um processo 100 fiável para nos protegermos dessa eventualidade.
 
A importância da visibilidade dos últimos números da anilha do pombo fotografado em borracho ou mesmo em adulto.
 
O pombo vai mudando de aparência, e em alguns casos até de cor conforme a idade, mas a anilha não pode mudar de pombo. Esta precaução serve também como segurança para quem mais tarde o possa vir a readquirir ao comprador original. Temos tido vários casos de pombos nossos que morreram por doença cujas anilhas voltaram a ser colocadas noutros pombos, e posteriormente vendidos com sendo pombos originais do CIC.
 
Um certo dia há mais de 30 anos o Louis Janssen deu – me a seguinte dica: nunca te esqueças que um comerciante de pombos está precisamente numa posição igual a um político.
 
A oposição está sempre a ladrar ou a inventar, o que faz com que a desconfiança reine sobre quem exerce essa actividade. Sempre que um mete o pé na água, á semelhança do que acontece num qualquer partido político, nós os outros, ficamos todos encharcados. Mais uma verdade do mestre. 
 
Tal como na economia será indispensável manter a confiança dos investidores sob pena de ficarmos todos sem crédito. A bola está do nosso lado.
 
Os acontecimentos relacionados com o caso Erik Limbourg na Bélgica fizeram com que mais uma vez o monstro acordasse, mas haverá outros.
 
Porem o que temos lido nos fóruns facebook etc, nem sempre corresponderá á realidade dos factos.
 
O que consegui apurar sobre este triste episódio.
 
Um dos mais conceituados veterinários da Bélgica terá comprado uma fêmea a Erik Limbourg com destino ao seu quadro reprodutor. Passados dois anos a dita fêmea fugiu das suas instalações. Este procurou a fêmea em casa do vendedor que alegou que esta não tinha regressado ao seu pombal.
 
Um ano mais tarde, ou seja três anos após ter vendido a fêmea, o Erik Limbourg vende a totalidade da sua colónia excepto os borrachos do ano num leilão organizado pela empresa Pipa. Nessa venda em asta pública aparecem um ou dois pombos com um ano de idade, acompanhados do pedigree onde como mãe constava o número da anilha da pomba que alegadamente tinha fugido do pombal do veterinário.
 
Ora não me sinto na posição de julgar seja quem for mas isto cheira-me mais a desleixo ou erro humano do que outra coisa.
Com todo o mundo de olhos no leilão, não imagino ser possível alguém cometer uma fraude destas intencionalmente. As probabilidades de sucesso seriam muito remotas. Mas não ponho as mãos no fogo. 
 
O Erik alega que o seu funcionário, ou ele próprio, se terá enganado ao introduzir no pedigree o número da anilha da mãe.
O veterinário sente – se lesado, quis reaver o seu investimento, pensando que a fêmea terá regressado ao pombal do Erik, porque na dita venda apareceram descendentes da mesma.
 
Ambos são pessoas cultas, respeitáveis, educadas, de caracter e com nível de vida financeiramente elevado. Ao mesmo tempo pelo que me foi possível perceber, serão duas testas de ferro muito difícil de quebrar.
Vamos aguardar pela decisão dos tribunais.
 
O CIC já por várias vezes foi vítima de tentativas de fraude. Devido aos elevados investimentos que ao longo dos anos temos vindo a fazer, somos conhecidos em praticamente todo o mundo. Isso levou algumas pessoas no estrangeiro a pensar que seriamos mais um português á procura do habitual ou seja algo que tenha anilha estrangeira.
 
Num leilão na Holanda há + - um ano atrás adquirimos dois pombos que supostamente seriam originais da colónia do falecido Pros Roosen. Os pedigrees na net pareciam reais, e o dono dos pombos de nacionalidade Belga até era vizinho da família Pros.
 
Tudo parecia normal, até que, três dias após o fecho do dito leilão, o dono dos pombos ligou – me directamente, a oferecer mais 6 pombos originais da mesma colonia a preço razoável.
 
Contactei o nosso agente nas Bélgica, que com a colaboração da gerência da Pipa e da família do falecido Pros iniciaram a investigação.
 
No dia seguinte os dois pombos chegaram cá e imediatamente pôde verificar que os pedigrees eram uma montagem.
O responsável pelo site do leilão devolveu o dinheiro, organizou a recolha dos pombos, e da nossa parte caso encerrado.
 
Várias outras tentativas foram feitas mas sempre sem sucesso.        
 
Porem não podemos colocar tudo dentro do mesmo saco, noutros casos por nós investigados até ao último pormenor bateu tudo certo sem qualquer falha.
 
Exemplo: inicialmente adquirimos vários pombos da linhagem Ludo Claessens, sem nunca pensar que posteriormente iriamos adquirir os pais e avós desses mesmos pombos, incluindo os mundialmente famosos a Zus 03, o Son Red Venus, a Nestzus Kirsty etc. Está tudo 100% certo, nas 38 análises por ADN, nem uma única deixou qualquer dúvida.
 
Os pombos da linha Pros Roosen, das 26 análises feitas, todas foram 100% confirmadas. Os pombos De Rauw – Sablon via André Verbesselt e outras fontes provaram estar 100% correctos.
 
Os pombos Janssen directos, apesar de compreensivelmente por vezes aparecer um pedigree escrito por uma mão com 100 anos de idade, com um algarismo trocado aqui ou ali, tudo está 100% correcto.    
 
O teste por ADN é uma excelente ferramenta, mesmo para nós comerciantes.
 
Será importante aprender a lidar com ela.
 
 
Inácio Oliveira

Noticias CIC, Lobão 25-08-2012